O céu cor-de-rosa intenso à 1h30 da manhã não me deixava dormir. Nem era pela claridade, porque a janela da minha cabine do navio tinha uma boa cortina blackout. Eu é que não queria perder um minuto daquela paisagem que se desenrolava do lado de fora.
Viajar para a Noruega entre maio e setembro, período de dias tão longos que quase não há noite, tem esse “inconveniente”: a beleza do sol da meia-noite é ainda mais arrebatadora.
E esqueça o estereótipo dos bárbaros vikings e dos lendários trolls: o país – independente apenas desde 1905 e detentor de um dos maiores IDHs do mundo – tem também um povo que não mede esforços para ajudar turistas.
A Noruega conquista já em seu maior fiorde, onde fica a capital, Oslo. Mas navegar por ali é preciso: são cerca de 75 mil ilhotas e mais de 1.750 quilômetros de fiordes, dando forma ao mais recortado litoral do planeta.
A cosmopolita Oslo
A capital é a mais cosmopolita das cidades norueguesas – mesmo tendo apenas pouco mais de meio milhão de habitantes, tem vida cultural agitada. É na deliciosa Aker Brygge, na região portuária, que moradores, estudantes e turistas se encontram em um de seus cafés e restaurantes. Mas a cidade ainda oferece mais de 50 museus e o espetacular Parque Vigeland, o maior parque de esculturas de um único artista do mundo: são 212 esculturas de pedra, bronze e ferro fundido de Gustav Vigeland. No Centro Histórico, destaque para o Palácio Real, o Teatro Nacional, a Galeria Nacional de Arte e o Museu Histórico.
Bergen, de trem ou de navio
A viagem de trem de Oslo a Bergen passa por uma das mais belas ferrovias do mundo, a Bergen Railway. Bergen é uma cidade portuária por excelência e de lá partem e chegam os cruzeiros que percorrem os fiordes noruegueses. O mirante no topo do monte Floyen, a pouco mais de 300 metros de altitude, revela uma cidade com jeito de conto de fadas.
No bairro de Bryggen, tombado pela Unesco, ficam o mercado de peixe Fisketorget (que vende de caviar a sanduíche de baleia) e casinhas de madeira coloridas do século 11, que já foram residências, e hoje abrigam restaurantes, cafés e charmosas lojinhas.
Rodeada por sete montanhas, Bergen chegou a ser capital da Noruega durante a Idade Média – e a bela igreja Mariakirken é um dos poucos marcos da época ainda em pé. Hoje, a cidade é principalmente o ponto de partida de cruzeiros, que levam os visitantes por uma infinidade de fiordes, que parecem “brotar” do mar o tempo todo.
Na vegando pelos fiordes
Diversas armadoras de cruzeiros de luxo operam por ali durante os meses mais quentes, e os históricos navios da Hurtigruten ligamBergen a Kirkennes, no extremo Norte do país, ao longo do ano, numa linda viagem de uma semana. Quem não quiser passar esse tempo topo navegando pode escolher trechos avulsos. O que mais vale a pena? A adorável Trondheim, sede da Catedral de Nídaros, a maior de todo o país (e onde está enterrado Olaf, o mais famoso viking), e da ponte Gamble Bybro. Ali, as casinhas coloridas construídas sobre palafitas se transformam em restaurantes, bares e pubs à noite. Não perca também Svolvaer, centro das exuberantes ilhas Lofoten, onde há um pitoresco museu de gelo.
Entre as ilhotas e fiordes, destaque para a mitológica MunkHolmen (a ilha dos monges, que já foi palco de execuções inquisitórias na Idade Média até ser transformada em mosteiro, no século 11), o Westfjord e o incrível paredão Lofotenwall, que se estende por mais de 100 quilômetros.
Ao cruzar o Círculo Polar Ártico, devidamente sinalizado no mar por um globo de metal instalado numa minúscula ilhota, há comemoração no navio. Ali, com o céu alaranjado da meia-noite, durante os meses mais luminosos, é possível avistar quedas-d’água dos penhascos, enquanto os passageiros recebem cobertores, vinho quente e sopas para apreciar tamanha beleza sem se preocupar com o frio.